sexta-feira, 30 de abril de 2010

"A coruja, mensageira da noite"

Vênus deitada
e sua cama é o mar;
Ali ela nasceu,
junto à destruição
titânica, abrindo
caixas de pandora,
e o resto se cobriu
de poeira
(sem múmias em
posição fetal ou
mosaicos no chão).

Na espera de uma
escavação arqueológica,
nada há de se reerguer,

Só cinzas, cobrindo também
o curioso canapé
envolto em bege ou marrom
e escamas de pele;

Mulher em carne viva,
dormente de dor,
estragada, disforme,
ao seu lado
foi Vênus deitada.

-lili (tirando sérias licenças poéticas em relação à mitologia grega)

última da semana

corrente gelada
que perfura a
barriga, corre
até o peito e
fica se
contorcendo em
nós:
não são suas
palavras, mas
o jeito com
que falas.

-lili

minha própria Sally Carrol

seus bracinhos
espreguiçavam pra
cima, inventando
verão nesse quarto.

protestos involuntários
saíam pelo canto da
boca enquanto sua
maciez sonolenta
era perturbada.

a vingança veio
cheia de dentes e unhas,
com a mesma lentidão com
que roubou minha água.

-lili

"sobrou a natureza-morta que compunha seus pratos"

Atrás dos dentes
um vômito de palavras
engasgando o ar,
sem poder ir ao chão
fazer bagunças inexplicáveis.

Basta lembrar de um
qualquer olhar e as
letras desordenadas
se escondem atrás
dos olhos e embaçam
um pouco da sujeira.

-lili

Cameron

um estalo na bochecha
e eu saio correndo
gordinha, você vermelho,
nem ameaça antes de
curvar o rosto em desgosto:

um empurrão na caixa
de areia diz amor em
todos os cantos

-lili

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o que sai pela
boca não são
palavras, são
canudos que
sugam a alma
despedaçada no
chão de "madeira"

-lili do ano passado

quando as árvores andarem

deitar na cama
sua camisa-e-gravata,
sua barba-e-óculos
e ver-te ali, surgindo,
vertendo sangue e
cérebro, observando
minhas mãos sujas
de argila.

-lili

segunda-feira, 26 de abril de 2010

poema do meu aniversário II

Não houveram
cerejas de feira,
mas haviam
marrasquinas
guardadas na
geladeira.

-lili

terça-feira, 20 de abril de 2010

"Jacksonville"

Quando universos
paralelos similares
colidem, digamos,
colocando um prédio
no lugar de outro,
a única vantagem
é encontrar nos
escombros (da óbvia
destruição de ambos -
um some e o outro quebra
com a colisão) objetos
que fornecem informações
sobre a outra realidade.

Se não é de interesse
fazer estudos sobre o
outro lado, o que resta
é um prédio e toda a
vida ali comportada
mortos e destruídos;
Aí jaz a consequência
da sobreposição de
construções, que
fique a lição.

-lili (com créditos a j.j.a.)

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Devir

vento de um
canto ao outro
(existiam mais
prédios aqui),
postes enferrujados
sem lampiões que
os acendam, cascalho
na Autobahn criando
limites de velocidade,
casas de eternas
paredes descascadas
que abdicaram de
qualquer tinta,
mascarando o
descaso decorativo.

o divã vermelho está
trancado junto à biblioteca,
com cadeado cuja
combinação não se
lembra, tudo em
esforço coletivo
para evitar a
máxima eficiência:
Alguém foi bem sucedido.

-lili