quinta-feira, 22 de julho de 2010

espera no aeroparque ou chimarrão

folhas banhadas recebem
pancadinhas dum cajado
metálico que libera
seu odor pútrido

leva-me lágrimas
aos olhos mal-
dormidos, leva-
me à ideia de castigo
divino, leva-me ao lado
de fora, tão frio,
para um trago amigo.

(quando saí o sol
batia no lago, rasgava
meus óculos e secou o
choro antes dele cair)

um corpo requer
outro para um abraço,
que só recebo do vento
e de tantos casacos que
se aquecem comigo.

(ainda não durmo e
conto os minutos
para que os outros
acordem, mais vivos
que eu)

não era tão difícil
quando foi o dobro dos dias,
quando tudo era novo e voltar era
vazio como a sala de espera
para o último paciente.

em duas horas de sono
conturbado não se sonha,
em duas semanas de corpo
perturbado não se acalma e
se agravam as calamidades
(as mãos dançam um 'olá')

até os vícios se controlam
sozinhos, nem eles aprovam
o excesso. também sentem o
peso de acordar com os
fantasmas, sentados em
cima do peito, saindo de
um ouvido ao outro pinicando
o que está no meio,apertando
os pés até sangrarem calor.

escutam-se estalos dos
carrinhos rondando o chão,
das unhas sendo roídas, do
canudo prateado batendo na
madeira, das costas estalando,
dos vôos atrasando duas horas,
as xícaras na mão da garçonete,
sinapses estourando sem oxigênio
e o trânsito seguindo guiado
pelos que moram aqui e não
sentem saudades

-lili

sábado, 10 de julho de 2010

belle de jour

Você saiu como
um grito que eu
não pude entender

(some! some!)

Arranhou a garganta
com força de
morte e o efeito foi o
de um tiro disparado

Correu adquirindo
som e me deixou
apavorada, sai! sai!
não é a sua hora!

Vem como um
demônio, como fumaça
negra, com tão pouco
aviso e nenhuma resposta...

por favor!, não é
a sua hora.

-lili

quinta-feira, 8 de julho de 2010

"o olho claro é a coisa mais bonita em você. quem dera enchê-lo de patos e cores,"

roubo água salgada
dos olhos pra pingar
no colchão e tentar
fazer mar

com ondas que
envolvem mas
não engolem, e se
rolo de volta à
areia nada sou
mas carne ao sol

e a pele pinica, como
a luz que cintila
na água corrente.

-lili

quinta-feira, 1 de julho de 2010

dos pincéis, nos sobram alguns fios de qualidade

lembro exatamente
dum olhar que você tinha
muito jovem

traço esse que
deve continuar
em ti, mas que
resolvo preservar
sozinho, pois,
pra mim,
voce deteriorou
inteiro quando
enfiou um garfo
no meu ombro e
sumiu com uma
ilusão de cobertas;

era incômodo
quando usava-o
para olhar pra mim,
mas agora que uso
para olhar pra
outros, acho
que entendi.

-lili