segunda-feira, 29 de março de 2010

Radiação

tudo o que há de pior
era como travesseiros,
tecidos com relatos dos
injustiçados, que
compunham quartos antigos.

não entrávamos em pânico,
e assim entranhamos em
terra de ninguém
(bem fomos avisadas);
até que se soube que aquilo
era o todo e já era
indesculpável.

passaram casas
suficientes para
caírem (ou cairmos
todos) em nostalgia,
implorando em silêncio
para fingir que nunca
saímos do imaginário
(onde ainda ríamos histéricas,
sem caretas)

e toda aquela graça,
nunca pudemos compartilha-la
além dos nossos
sussurros e olhares.

claro que só o
que prosperou foi
meu amor por você.

- lili, para alice

terça-feira, 23 de março de 2010

"The tulips are too red in the first place, they hurt me."


os botões aflitos se
atropelam goela abaixo,
pois já não se
podem deixar nascer.

01, 21, 23, 01,
abiogêneses sobrepostas
descendo, sufucando,
me torturando na
tentativa de
fazer esquecer.

água nos olhos,
preciso vomitar!
não.
água com açucar.

01
é tudo que
devia ter ficado,
mas é um ciclo
e não sabemos
como quebrá-lo.

-manu

sábado, 20 de março de 2010

Mortas vivas
cacarejando em
meio ao
ascender do dia.

-lili e manu

Importa-se se eu baixar as pálpebras, por favor?

A goteira arranjou
novo encanador,
que lhe deu um
nó com plástico.

O outro funcionário,
já há muito desprovido
daquela virilidade e
ainda incompetente, faz
aparições no corredor.

E o síndico, agora
na França, ainda ri
com o ódio da desaprovação:
"É tudo sua culpa."

Não estou sozinha quando
o chamo de consciência
maldita e física, nem quando
regozijo, senhor síndico, por
não mais o senhor habitar
nosso solo.

Por que ainda te
escutamos, todas
em silêncio, com
vergonha? Continue
na França, fazendo
seu filme.

A pia amanhã volta
a gotejar, mas o que
o síndico diria?
As Páginas Amarelas
estão sob o balcão,
caso seja necessário.

-lili

segunda-feira, 15 de março de 2010

"Ah, mas eu não vou como vim"

se você aqui cortar, não
sangra; tamanha
é a dormência
no pé--

não faz cair,
nem implica um sentir,
tampouco evoca um xingar
ou afagos saudosos.
nada,

é o que desperta, e
não agrada ou agrega
ao que seguramente
chamo de um caso
sem evidências.
te julgo criminoso,
não o digo no jornal:

és apenas suspeito
para olhares alheios
de desinteresse.

um dia hei de ler
seu obituário.
talvez não reconheça seu nome,
como hoje já é com seu corpo
e entranhas.

-lili

quinta-feira, 11 de março de 2010

"fantasia em g mol"

lia música nas rachaduras da parede,
que tomavam dimensão, me roubavam
carne e, robustas, corriam cantando;

surgiram no caminho areais em chãos
igualmente alvos e negros, invisíveis,
(no preto e branco, quem sabe não seriam
laranjas e azuis), que faziam correr
monstrengos e ondocas em suas
pequenas montanhas de grãos.

depois, os furos em madeira,
os rastros de cobre ou caneta,
os tijolos e fechaduras só
pararam de tentar falar alto e
as portas se abriram sem o
estardalhaço todo dos outros materiais.

-lili

sábado, 6 de março de 2010

cotidiano

Leblon
Ônibus
General Osório
metrô
Largo da Carioca
metrô
General Osório
Ônibus
Barra
Ônibus
Gávea
Ônibus
São Conrado
Ladeira
casa
cama

Peru tonto?
não. Tolo
Atolado