quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

il fumo uccide


muito imponente,
você,
em toda parede
nas mais
variadas formas
de linguagem:
"não, não, não!"
E lá se vão
trin-ta horas

muito impotente,
eu,
resmungando sozinha
e sem efeito algum.

-lili enfezada no aeroporto

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

"E na primeira chance faz tudo virar pedra. "


faca novíssima,
reluzente, vem
inesperada de encontro
ao meu estômago.
golpe rápido,
não o suficiente
pra que o bandido
não seja identificado:
o estômago mata em vinte
minutos que não se sabe
quantos dias vão durar.
e não há polícia ou desculpa
que repare ou perdoe
tamanha incoerência
numa cozinha,
território familiar e neutro,
em que pensei que as
coisas poderiam ser
sempre as mesmas.

-lili

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

carnaval, angra dos reis 2010

"perdi o leme!"
capitão logo ganha
dois novos
pares de olho

"esquerda!,
nao, um tiquito
para a direita!"

agora está safo,
entao tais olhos
duplicados
antes
amedrontados
agora se fecham
para tomar um pouco de sol.


por anouk

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

"isso é um mau hábito, omar!"

Talvez eu confiasse
Mais em você se
Você fosse só alma.

Sem esse corpo
Cheio de agonias
E a mente desengonçada,
Só ar, como um
Espaço de gaveta
Separado especialmente.

Sua presença física
Rouba a ferrugem da
Lembrança, que permanece
Pristina por trás da porta.

Mas se eu
Sou voyeur,
Somos dois
E talvez nos
Relances tudo
Tenha feito
Sentido.

-lili

domingo, 24 de janeiro de 2010

caminho de ida

tum
tum tum
tumtumtumtum
turum
tumtumtumtum
turum tum
tumtumtumtum
trum
tumtumtumtum
um cão corre
por entre os
vinhedos
tumtumtumtum
tumtumtumtum
Prossima fermata
Napoli.

-lili

disposição trágica

me fere,
o caco quebrado
no chão, nunca
encontrado, em
misto a poeira,
sou eu.

-lili

ascenção e queda de um relacionamento na primeira hora do percurso do trem

a gente dormia
em mesma sintonia,
cabeças inclinadas

o seu telefone toca
- hm. hm.
você bate os dedos
na calça, fazendo
barulho
Hm

acordo, você já nem
liga mais.
tiro o cachecol
e esbarro em você
Desculpa

mas a gente trocou
de estação, você ficou
puto e mudou de
lugar, já é tarde
demais.

-lili

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

"possante-me" marujo!

Eram corpos de biquine
posando no
mastro do
barco

,muitos corpos
em pose
,posando
possando
possante
possui
nao, nao possui
quer possuir

sobem na retranca
e enquanto dançam,
possantam (possuem)
de forma intensa
como nunca se havia visto

tais meninas
tao novas
tao puras
macias e comportadas.

o mais estranho
de tudo isso
é que nenhum marinheiro
realmente
parou para olhar.



anouk

sábado, 9 de janeiro de 2010

dialogo entre duas pessoas intimas em uma manha de cama magnetica.

- Uma depressão é um ponto ou região mais baixa que os pontos à sua volta.
- é assim que voce trabalha, com palpites e suposicoes?

olhos cheios d'agua. Mariana nao sabia mais o que dizer.


-anouk

'seu rosto na luz da manhã, você é tão cool'

vocês todos
vocês sem dentes
cheios de mãozinhas
que tem dedos e unhas,
vão ganhando osso
e às vezes a boca
e os olhos continuam
os de sempre, dançando
muito lindinhos enquanto
vocês falam e mexem
o rosto e o corpo que
vai junto e é aquele
esqueletinho que
não é mais tão rosa
mas continua macio
mesmo vocês tendo
já mais de um metro
e setenta e usarem
roupas até mais
engraçadas que
quando ainda
não tinham
nem registro.

-lili

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

quem sabe um intervalo ou até todo um fim

chega de xícaras
chega de chá
bules nunca causam
grandes danos, pires
enojam até a alma
mas a porcelana
se quebra e a
alça reta não
mais o é.

-lili (acho que de uns meses atrás)

"alguns elogiam na manhã o que culpam à noite"

sempre preferi
o nada
onde o nado
é difuso e
cada palavra
doce se
torna ondas
que a tudo
encaixotam.

-lili

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

demência

muitos dedos sem
palma, que em
tudo encostam
e nada seguram.

bundas empinadas
para o ar esperando
uma palma-
palmada, de mão
cheia, mas mal
conseguem
o toque de uma
planta do pé

pés que nunca
chegam ao chão,
com membranas
que fazem nadar
e não tem
aderência.

tudo corpo,
e seus adereços--
que a nada tocam,
sem o peso
de alma alguma.

-lili

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

"piada cósmica" ou "karma"

O dano foi feito:
a mulher ao meu lado
nada fez, mas me fere
incansavelmente,
levando dor aos
meus olhos com seu
distintivo maligno
preso no pescoço.

-lili do fundão em 13/3/09

natal com intertextualidade

o natal acabou.
em pleno dia 24.
se ainda nao dormi
continuo no
24.

dia nao é
o simples passar de hora

é o novo
que nao vejo
faz um tempo.

os convidados já foram
e eu nao quero
subir
e deitar no canto
da cama

nem o fantasma
espaçoso
está ai.

mas meu lugar é imposto:

Acho que
amanha
continuo no

24.

-anouk.

domingo, 20 de dezembro de 2009

dano colateral

fantasma espaçoso
impondo seu lugar
na cama, me
reduzindo a
um canto
do qual
não ouso
sair

se o meu pé
escorrega e
o dissipa, a
névoa faz
os olhos
arderem

-lili

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Importa-se se eu baixar as cortinas?

Corpinho parnasiano
de porcelana,
encaixotado fora
da cidade.

As mãos se roem
e caem se apertando,
a argila tão delicada,
fita isolante isolando
as unhas do papelão.

(Psssssssss)

Idiotinha, só se
abre presentes
na manhã
de natal.

-lili

xxxxxícara

a maneira
como a lingua encosta
nos dentes laterais

ruído

a xícara mais uma
vez
com um
pouco de leite.


anouk

domingo, 13 de dezembro de 2009

Bule

Moeda debaixo
da língua e
Olhos saltados,
ele dançava
Antiquado.

-lili

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

eu e o seu, nao, o meu umbigo

me sinto pequena,
incrivel como me faz pequena
meus dedos acariciam
quase de odio
seu corpo
perfeito demais
nao,
nao quase de odio.

-anouk

e se eu sujar tua roupa com pasta de amendoim?

nao me sobrou filhos

em anos
de planejamento
de tantos filhos

estou eu aqui,
com uma chicara de cafe
e um pouco de leite frio

(para equilibrar a reaçao
gastritinosa
no meu estomago)

percebo

(enquanto acendo
mais um catalisador do fim
de minha vida)

que nao me restou,
nem um misero filho.

- anouk

domingo, 6 de dezembro de 2009

e se eu sujar a tua roupa com argila?

nós tinhamos
filhos!
pequenos bebês,
todos iguais a você.

(...)

-lili

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

resurgindo dentre os poemas da lili

mais uma vez
bombardeada
pela lili
cabeçuda



anouk

interruptor

Vocês dançando
debaixo d'água
alaranjados, se
derretendo
imperturbáveis em
meio aos berros

As companhias
não os percebem
fazendo um tango,
se alastrando
na superfície,
confiando as
vidas num
toque despercebido
ao fim da festa.

-lili

domingo, 29 de novembro de 2009

osx

dois dias se
passaram e eu
sinto falta de
tamborilar os dedos
antes de te abrir,
de me arrepender
pelas marcas
nunca cicatrizadas
que causei com
desleixo, meu
repertório
inteiro nas tuas
entranhas que
no momento
estão nas mãos
de estranhos!
fico tão nua e
branca quanto
você, vulnerável
como uma idiota.

-lili

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

"O doutor não está...ele está desenhando esta página!"

te tenho novamente
em meus braços que
mal aguentam
o peso que você
tem em alma!
os seus óculos
e as suas mãos
que desenham,
seus sonhos
compartilhados de
subterrâneos cristalizados,
fragmentos de efeito
oníricos; você é o
amante e criador
do amor,

"vai, maldita, mais maligna!"

-lili ("não, assim não! é gibi demais!")

"Arno tem oxigênio para quatro minutos e meio"

acabaram em um ano, dois.
o primeiro como se fosse um final
épico, cheio de sensações veraneias
douradas e cálidas de nostalgia
antecipada.
o segundo como um meio,
sem raios de sol na luz e no
calor, sem abandono ou até
encerramento; acabou
e deixou pra trás um começo,
sem mesmo ter terminado.

-lili cansada

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

geada em aula

lábios são vermelhos
unhas são azuis
meu casaco é de crochê
e eu fui
burra
em vesti-lo antes de sair.

-lili

sábado, 21 de novembro de 2009

Norridge-wak



tirar esse
vestido e
depois essa
roupa, despir-se
de cada músculo
pouco desenvolvido
até virar só osso
e olhos.

-lili

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

três pausas antes de bater na tua porta.

Essa casa, símbolo
máximo da tua
incapacidade de
amar. Museu de
vida fabricada,
mausoléu de infâncias
destruídas, gritando
no seu abraço frio.

Mais um câncer maligno.
A sua persona que
ainda cobra
caprichos, a
sua patologia
escondida pelo
sorriso afetado,
esse bando de
lembranças novas
que você empurra
insistente, se agar-
rando a nós como
uma inocente.

A sua solidão não-
declarada me vinga:
por todos os momentos
que você privou,
por me fazer desejar
pernas-grossas e olhos-azuis,
por inventar sua linhagem
pura e me trancar na
condição do judeu.

As construções de
areia que me roubaram
anos,
você ousa me puxar de volta.
Mas mal sabe
dos afagos que
agora ganho
pelas manhãs.

-lili

A gaivota na sua assinatura...

Molly, a irlandesa,
morreu enforcada
por suas palavras
nos traços de outro.

-lili

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

soirée

o mais beócio
dos bojos do baile,
ela te olhava

- eu quebrava
a espinha e você
achava que era
um samba diferente -

tão dissimulado,
tão concentrado no
decote alheio.

-lili

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

ah, a nova inglaterra

por trás das
portas de madeira
molestam-se sobrinhas
envoltas em vapor

chapéu, fivela e
batina, ao lado
da banheira, tudo
veêm sem pudor.

lili

pneumática II

na porta do
assalto, fanática,
mãos ao alto, o
público delira
com o rifle
provido de ira
em meio aos
gritos de "Ática!"

e a amante,
travestida, pneumática,
esperando a
ligação, observa
horrorizada seu
herói indo à
prisão, terminando
arrasada, enrus-
tida e asmática.

-lili, para andré

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

pneumática

balança de um
lado para
o outro
na auto-asfixia
mais fleumática...!

semblante cinzento,
enrugado, sua puta
rodada, que fim
mais ingrato:

a árvore
em que se pendura
jamais se compara
aos chãos que
a tocaram.

-lili

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

era tão cedo que não pude perceber melhor

as sombras dos homens
que se derretem
em palavras
afetuosas num papel
que é corpo e
é casa
e é olhos e
mãos.

a equilibrista se
morfa de forma
alongada e a
pele suave que
é cabelo e é
mar constitui
o amor dos
verbos das sombras.

lili

"as árvores, como pulmões, se enchendo de ar. minha irmã - a má - puxando meu cabelo."

ainda é difícil
ouvir o som do elevador
e lembrar que
estamos todos aqui.

-lili

e alem do mais, piadas cretinas

a luz azul e o
reflexo rosa nos
braços finos que
se resumem a
nada.

até a árvore zomba
desses gravetos,
apedrejando-os
com golpes vagos.

no mesmo cenário em
os pés costumavam
sangrar, as mãos
de vulcão
apodrecem e viram
o mesmo que o tabaco
queimado:

restos morais.

-lili

"antes um punhal que a tua mão em mim, Franz"

essa pirraça-
pirraça!
invisível porque não
é percebida
que cansa cansa cansa
e eu bato o pé no chão
e faço biquinho
e fico com os olhos
grandes e nada, nada
da minha má-
criação faz barulho.

lili