quinta-feira, 19 de junho de 2008

"É doce morrer no mar"

por anouk

Quero aprender a amar como Vinícius. Não importa se 9 amantes ou um só a vida inteira. Quero aprender a eternidade de momentos singelos, amar um gesto. Uma unha que for. Quero banhar o mundo com esse amor, e assim fazer sorrir almas congeladas. Porque é isso que importa, e é para isso que estamos aqui.

Ela falava com o ar, a mercê de uma janela –no fim sempre nos resta a moldura de janelas- Se ao menos houvesse alguém para amar... Era noite de lua: Postes acessos em vão nas calçadas já iluminadas, convidando-a para uma volta. Tinha compromissos cedo no dia seguinte, não podia se dar esse luxo. O amor bombeava seus pensamentos, prestes a explodir pelo nada. Era preciso compartilhar tal sentimento misterioso porque sabia que aquela noite era para isso. Sim, a noite era para isso; Esperar seu Guma em cais baiano, seu Romeu em sacada branca.
Chega de sonhar. Foi arrumar as coisas para a manhã que se sucederia -cada vez mais perto -Agenda, carteira, onde estavam as chaves? Procurou na bagunça da estante, ao lado da televisão. Lá estavam elas, jogadas em cima do Box da Audrey Hepburn. Apenas um filme em seu lugar, os outros dois perdidos pelo flat. Segurou aquela caixinha de papelão, presente de alguém já longe. Sentou na cama. “A princesa e o plebeu”. Um romance em Roma. Esticou o pescoço como se espiasse a janela: Aquele Botafogo sufocante.
Valeria a pena assistir aquele filme de novo? Estava cansada do papel de telespectadora. Deitou-se. Amanhã estaria mais uma vez naquele escritório de paredes finas. Contabilidades inúteis. As mesmas pessoas esnobes de hoje, carregadas das mesmas piadinhas sem graça. Olhando o teto reparou a poeira acumulada nas abas do ventilador. Ventilador de duas abas, idéia simples, estaria aquele design rico? Passos barulhentos do andar de cima. O bebê nunca visto chorando mais uma vez. Porque ele estava sempre chorando? Ela passou a imaginar seu rosto. Bochechas rosadas, aquele cheirinho gostoso. Sua vontade era subir as escadas e pegá-lo para si. E assim amá-lo acima de tudo. Amar tanto, e de amor transbordar.

Deixa de besteira.

Abriu as portas do armário por algum impulso desconhecido. Pegou aquele vestido, há muito não usado. Vermelho de bolinhas brancas: Alguém a amara dentro do tecido rodado. Vestiu-o, pintou o rosto e calçou seus mais belos saltos.
O mar longe se medido em passos, a sacada; Uma janela pequena e alta de mais. Resolveu então sair de casa: A busca por uma taça de vinho francês, e quem sabe por uma Tiffany, para brilhar diante da vitrine.
Por que ela sabia que essa noite era para isso.

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